A medicina veterinária é uma área de atuação ampla e trata dos cuidados de diferentes bichinhos. Hoje em dia, os pets silvestres são cada vez mais comuns e para atendê-los existe uma modalidade profissional específica. Estamos falando do veterinário de animais silvestres.
Para falar sobre o assunto convidamos Loide Machado que é veterinária e especializada no cuidado com animais silvestres. Ela é sócia-fundadora da Prosilvestres, clínica carioca que desde 2012 se dedica aos cuidados de animais silvestres.
Este conteúdo é uma homenagem ao Dia Mundial da Vida Selvagem. Nele, Loide, nos conta como se apaixonou por silvestres, toda sua história e como se conectou a essa área.
Além disso, ela deu dicas práticas para quem deseja seguir nessa carreira ou abrir uma clínica especializada em animais silvestres.
Confira a entrevista agora mesmo.
Como você decidiu cuidar dos pets silvestres?
Loide: Quando eu comecei a fazer veterinária, eu sempre pensei que iria me especializar em medicina de felinos. Eu tive contato com gatinhos a minha vida inteira: tenho gato desde os dois anos de idade e não sei o que é uma vida sem gatos.
Mas, quando estava na graduação, fui trabalhar em um pet shop que tinha uma parte exclusiva de aves. Por lá, as vendedoras ficavam ali próximas dos cães e gatos. Então, eu me apaixonei pelas aves.
Elas estavam lá para venda e eu me encantei por elas. Então, eu ficava lá, eu cuidava, eu ia aos finais de semana, soltava as aves… E foi assim que acabei me encantando com os animais silvestres.
Ao terminar a graduação, decidi fazer uma pós graduação e acabei me especializando em silvestres.
Como se tornar uma veterinária de animais silvestres? A especialidade é regulamentada?
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Loide: Essa ainda não é uma especialização regulamentada, mas como este era um universo desconhecido para mim, fiz pós-graduação em animais silvestres. Eu precisava decidir o que fazer e foi quando decidi transformar a minha paixão em carreira.
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Qual é a diferença no atendimento veterinário entre animais silvestres e pets tradicionais?
Loide: Para começar, a abordagem é muito diferente. Primeiramente que quando lidamos com cães e gatos, estamos atuando com duas espécies de mamíferos e isso por si só já traz muitas diferenças no manejo, além de facilitar muitas coisas.
Já quando falamos de silvestres, o atendimento muda. Por exemplo, quando uma ave chega na gaiola, precisamos conversar e observar antes de tocá-la para atender. Este é um tipo de animal que você, talvez, precise de um oxigênio ao lado só para atendê-lo. Isso torna o tratamento bem mais complexo.
Já tem outras situações que você nem pode tocar no animal. Esta é uma situação muito presente no atendimento de répteis. Normalmente, avaliamos estes animais de maneira muito externa. Não há a prática de ausculta ou exame físico.
Para estes animais, o veterinário de animais silvestres tem pouco espaço para avaliação. Por isso, nós normalmente solicitamos alguns exames como raio-x, porque senão você não consegue avaliar direito a queixa clínica.
Além disso, uma outra grande diferença está relacionada aos motivos de internação. Basicamente, a maior parte dos animais silvestres precisa de internação, pois práticas necessárias à recuperação como a medicação oral e a alimentação se tornam muito difíceis a depender da espécie do animal.
Na realidade, a gente interna cão e gato muito menos. Já com os animais silvestres é justamente o contrário. Muitas vezes, é preciso realizar um tratamento venoso, porque o tutor não consegue fazer isso em casa, pelas dificuldades no manejo do animal.
Por exemplo, imagine fazer uma medicação oral em um jabuti que não está comendo. No caso deste animalzinho, ele não vai abrir a boca.
Por isso, o ideal é que ele fique internado, para que a medicação seja feita de forma injetável. Então, neste ponto, com os animais silvestres a gente acaba internando muito mais. Eles exigem muito mais dificuldades nos cuidados e no manejo.
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Existe algum desafio na relação veterinário-tutor?
Loide: Eu percebo que existe uma desvalorização dos animais de baixo valor, como um hamster e um rato. É muito fácil os tutores compararem o preço da consulta à compra do animal, porque há tratamentos que custam 3x a 4x mais do que o próprio animal. Isso dificulta muito na hora de passar um tratamento eficiente para esse pet.
O contrário também acontece: às vezes, existem tutores com animais de muito valor, por exemplo, uma arara azul. Um animal como este vale cerca de R$ 75 mil reais.
Infelizmente, há pessoas que têm esse pet em casa como ornamento e não querem ter gastos com veterinário. Isso é mais comum do que se imagina.
O que geralmente vejo são tutores que só vêm a clínica quando o pet já está muito debilitado. Isto normalmente acontece porque os sinais de que há uma patologia em animais silvestres não é facilmente percebido.
Os tutores de silvestres ainda estão se conscientizando em relação aos cuidados contínuos com os animaizinhos. Por isso, eu sempre reforço aqui que o tutor precisa trazer o animal a cada 6 meses. Nem sempre vamos fazer uma bateria, às vezes, eu peço uma vez por ano.
E é melhor descobrir o problema no começo para que haja chances de tratamento. Aqui eu lido com animais que vivem por muitos anos, é o caso de aves e répteis.
Tenho até uma história verídica para contar: eu atendi aqui um papagaio que já estava na família há 40 anos. Ele foi do falecido marido da tutora e, antes que ela fosse a tutora, já tinha passado pro filho que também morreu.
Quando o papagaio chegou aqui, ele estava muito debilitado. A dona me falou com lágrimas nos olhos que o bichinho era tudo que tinha restado do marido e do filho. Foi horrível, porque ele não tinha um acompanhamento veterinário e quando fui atendê-lo eu já sabia que ele iria falecer.
Um animal silvestre tem mais risco de morrer do que um cachorro ou gato. Por isso, é tão importante manter o atendimento veterinário de forma constante, além de ter cuidado com o manejo do animal.
Percebo que 70 a 80% dos atendimentos da clínica estão, sem dúvida alguma, relacionados aos erros de manejo dos tutores. Seja um erro de manejo ambiental ou alimentar, acaba gerando diversos outros problemas para o animal.
Então, ainda está se formando uma cultura de cuidados veterinários de silvestres, certo?
Loide: Educar o cliente é algo que a gente faz todos os dias. É um hábito necessário, afinal, nem todo mundo sabe como cuidar da forma correta.
É por isso que aqui a gente não pressupõe se o cliente sabe ou não. A cultura da educação vai para todo mundo. Nós oferecemos informações, falamos sobre manejo, cuidados, preferência e muito mais.
E eu prefiro fazer várias consultas de orientação, de profilaxia a ter que fazer uma consulta de emergência que irá internar o animal.
Prefiro ter 10 pacientes que eu vou cuidando ao longo dos anos, que vou orientando com calma do que ter 2 pacientes que vão parar sempre na emergência.
Como atrair e reter clientes?
Loide: Uma coisa que acontece muito comigo é as pessoas irem até a Prosilvestres, porque viram as redes sociais da clínica ou as minhas redes sociais.
E, para reter, o segredo é você fazer um bom trabalho. Oferecer um trabalho feito com carinho, com cuidado… Feito não só pelo gestor da empresa, mas por toda a equipe.
Aqui a gente trabalha com o atendimento humanizado. Não estamos apenas cuidando de um bicho, o pet de alguém. Cada paciente é o amor de alguém.
Nós acompanhamos a evolução de todos os animais, principalmente dos que apresentam casos mais graves. Isso significa que mesmo após realizar o atendimento, ligamos para o tutor, oferecemos orientações sempre que necessário.
Então, não importa se é um animal silvestre que vale mais ou menos dinheiro. Cuidamos de todos com o mesmo amor e carinho. E as pessoas percebem! Isso, por si só, é um forte ponto para reter o cliente.
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Como abrir uma clínica para silvestres?
Loide: Quando abrimos a Prosilvestres, o objetivo era ter uma clínica exclusiva para silvestres. Mas, hoje consideramos isso um erro.
No Brasil, a grande procura por clínicas veterinárias e pet shops é feita por tutores de cães e gatos. E, convenhamos, são os cães e gatos que geram receita.
Os tutores deste tipo de pet têm muito apego e, por isso, na hora de gastar com veterinário, eles normalmente não medem esforços.
Se hoje eu tivesse que fazer um modelo novo de clínica, eu abriria para cão, gato e animais silvestres. Hoje, 10 anos depois, estamos quase equiparando a quantidade de atendimentos de animais silvestres aos de cães e gatos.
Eu gosto muito de dizer: nós somos uma clínica que trabalha com animais silvestres e até atendemos cão e gato. Que é o contrário da maior parte dos lugares.
Uma coisa que eu não faria hoje é abrir uma clínica veterinária normal e ter apenas um dia da semana para tratar animais silvestres. Isso é muito comum em diversas clínicas – inclusive, eu já trabalhei em uma clínica assim.
Por exemplo: o dia de atendimento de silvestres é na quarta-feira, mas na quinta a ave começou a respirar mal. O tutor vai esperar o médico veterinário até a próxima quarta? Não dá, né? Isso compromete o bem-estar da ave e pode até resultar em óbito.
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Que estrutura é necessária para o atendimento veterinário de animais silvestres?
Loide: Para montar uma clínica veterinária de animais silvestres, você vai precisar de algumas coisas que não tem em clínicas que atendem só cão e gato.
A principal diferença está em relação aos materiais. Você vai precisar de incubadoras, aquecedores e, é claro, de um ambiente separado para silvestres, especialmente a internação.
Ao pensar na internação, é preciso ter em mente que o espaço não pode ser muito pequeno. Em relação a aves, eu não posso colocar uma calopsita de frente para um rapinante. Senão eu vou deixar a calopsita super estressada, o que acabará prejudicando o tratamento.
Eu não posso, inclusive, colocar uma serpente internada do lado de um rato, porque eu vou estressar os dois animais: a serpente por querer comer e o rato por achar que vai morrer.
Então, essas coisas assim têm que ser pensadas para proporcionar conforto para todos os pacientes. Faz uma internação para animais silvestres super pequenininha não dá, e esse é um erro que muita gente comete.
Além disso, acredito que um detalhe importante é em relação aos equipamentos. Por exemplo, o aparelho de raio-x. No atendimento silvestre, um dos recursos mais utilizados para diagnóstico é o exame de raio-x. Por isso ter esse aparelho na clínica faz toda a diferença.
Eu já estive em duas situações: a de ter e a de não ter um raio-x disponível. E posso dizer, ter este tipo de exame à disposição mudou a forma como faço o atendimento veterinário de animais silvestres.
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Que tipo de detalhe legal é preciso estar atento?
Loide: Isso ainda é uma grande confusão. Há um tempo atrás, os órgãos responsáveis por fiscalizar a atividade veterinária tentaram obrigar o não atendimento a animais que não são legalizados.
O que eles queriam é que os veterinários denunciassem os animais não legalizados. Mas não faz sentido algum não atendê-los, porque não dá para negar atendimento a um animal que precisa. Os animais precisam de um veterinário de animais silvestres.
Nós somos respaldados pelo conselho e pelas leis da veterinária. Então sim, a gente pode atender o animal, porém a gente não pode internar.
Portanto, o atendimento não é proibido. Às vezes, quando o animal realmente precisa, o internamos e vamos driblando esse tipo de situação.
Qual dica você daria para um veterinário que está começando?
Loide: Vou dar a dica que dou para todo mundo: nunca pare de estudar. Você pode até achar que uma coisa é fácil, mas muitas vezes ela não é.
Eu vejo muito estudante que faz vários estágios e quando se forma se sente especialista. Uma coisa é você ter a teoria, mas na prática a gente sabe que não é tão simples assim.
A prática não é só o que você estudou na sua faculdade, que viu na sua pós. Eles ajudam? Sim. Mas não é só isso para se intitular especialista.
Para mim, o segredo está em estudar muito e sempre ter humildade para não achar que você sabe tudo. E, claro, continuar estudando.
O veterinário de animais silvestres lida o tempo todo com aves, répteis e mamíferos. Isso por si só já torna o processo complexo. Além disso, são animais de fisiologias diferentes, anatomias diferentes, que são acometidos por quadros clínicos diferentes.
Eu lido com uma ave, lido com uma calopsita, com uma arara. É claro que elas são iguais por dentro, mas o manejo é diferente, a forma de lidar é diferente.
Então é isso sabe, ter humildade e nunca parar de estudar. Estes são os conselhos mais valiosos que eu posso dar.
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Se você chegou até aqui, acredito que tenha percebido o quanto o atendimento veterinário de animais silvestres é importante. Porém, o dia a dia de uma clínica com foco em animais silvestres apesar de ser incrível, não é nada simples.
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