Se você chegou a este texto, significa que o convite do título fez sentido para você: é hora de falar sobre burnout nas clínicas veterinárias.
Basta uma rápida pesquisa no Google para entender que já existe muito material sobre este assunto. Além de inúmeras matérias jornalísticas, existem eventos para a comunidade veterinária ao longo de todo o ano – especialmente no setembro amarelo, mês de prevenção ao suicídio. Por que, então, escrever mais um artigo sobre burnout veterinária?
Neste conteúdo, convidamos você a discutir o tema da burnout veterinária e a saúde mental sob uma perspectiva nova: a empresarial. Mais do que um problema individual, o equilíbrio psicológico é um tema corporativo – que impacta diretamente a sua empresa.
Erros médicos, apatia no atendimento e impaciência com animais e tutores são alguns dos problemas que podem ser gerados a partir da burnout veterinária. O ápice da questão é o risco de atentado à própria vida.
A experiência da sua clínica reflete o estado dos colaboradores. Pessoas doentes criam empresas doentes… E a conta chega não apenas para o veterinário exausto, mas para o empresário que tanto batalhou para criar o seu negócio.
É como afirma a psicóloga Alice Frank, estudiosa da burnout veterinária: “Se o gestor não cuida do veterinário, quebra toda a estrutura da clínica. O veterinário é a vitrine da empresa“.
Para te ajudar a lidar com esse assunto, convidamos especialistas: gestores que criaram estratégias contra o burnout, veterinários que já enfrentaram a questão e uma psicóloga experiente no atendimento aos profissionais pet.
Neste artigo, vamos abordar:
- Burnout veterinária: o que é?;
- Burnout veterinária: o que está por trás?;
- Burnout veterinária: o que fazer para mudar esse jogo?
Burnout veterinária: o que é?
Provavelmente, você já ouviu falar ou conhece alguém que tenha experienciado sintomas de burnout veterinária. Mas o que define essa doença e qual a diferença entre ela e outros males psicológicos, como o stress e a depressão?
“Essencialmente, o burnout é a exaustão relacionada ao trabalho, gerando inefetividade”, explica a psicóloga Alice Frank. No contexto de profissionais de saúde, a doença pode ter um outro nome: fadiga de compaixão, um tipo específico de burnout relacionado ao trabalho que lida com o sofrimento do outro.
De acordo com Alice, os principais sintomas de burnout são:
- desinteresse pelo trabalho;
- ansiedade;
- falhas no atendimento;
- impaciência no atendimento;
- insônia.
“Já tive paciente que estava passando o plantão quase dormindo. Falava uma frase e quase dormia. Não conseguia preencher as fichas por uma sobrecarga de trabalho. Não consegue dar conta do que está acontecendo. Pode ser que puxe a medicação errada, faça uma conta errada, passe uma receita errada”, compartilha a psicóloga.
O veterinário e gestor Danilo Otávio, da clínica VetVale, conta que passou por uma situação de burnout veterinária. No entanto, por não ter conhecimento, não percebeu o que estava acontecendo. “Fui desanimando, ficando triste, até começar a fazer terapia pra tentar entender o que era. E aí que passei a perceber o que estava acontecendo: e era muita coisa relacionada com a profissão mesmo. A cobrança em cima da gente é muito grande”, revela.
Se, ao olhar as redes sociais do colaborador, parece que está tudo bem… Cuidado. Alice alerta que o burnout causa impactos diretos no trabalho, mas nem sempre é perceptível nos aspectos da vida pessoal.
Ou seja: é preciso ter atenção aos comportamentos da pessoa no trabalho, entendendo o que pode estar impactando na saúde mental do time.
Leia também: Saúde mental do médico-veterinário
Burnout veterinária: o que está por trás?
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Por se tratar de uma doença ocupacional, a origem da burnout veterinária está no próprio dia a dia da profissão. “A própria rotina de trabalho do médico-veterinário, do plantonista, é extremamente pesada”, conta Morgana Freire, presidente da Anclivepa-BA e membro da diretoria executiva da Anclivepa Brasil.
De acordo com os especialistas, existem quatro pilares principais por trás desse diagnóstico: o excesso de trabalho, a transferência de responsabilidades, a proximidade com o sofrimento e os medos da profissão.
Excesso de trabalho
É unanimidade: de acordo com os entrevistados, os turnos de trabalho sem fim são uma das principais causas de exaustão emocional e física entre os profissionais. “É final de semana, é trabalho noturno, um dia você vira noite, outro dia você trabalha de dia. Como você vai regular seu sono? Como você vai ver seus amigos e família?”, questiona a psicóloga Alice Frank.
Embora cansativos, os plantões e emergências são comuns na rotina de veterinários. Um dos motivos é a baixa remuneração: “Os veterinários falam: ‘Eu ganho R$ 100 por um plantão de 12 horas e tenho que fazer isso 15, 16, 20 vezes por mês. Como é que eu durmo? Como é que eu faço exercício?'”, conta o gestor Rodrigo Rabelo.
Quem pensa que o excesso de trabalho se resume aos veterinários, está enganado: ele também afeta os gestores. “São muitas demandas e a gente não vê nada disso na faculdade. É muito difícil o financiamento, crédito. Realmente foi na batalha, na luta mesmo, praticamente sem recurso. Não sou de família rica, não sou herdeiro”, compartilha Danilo.
Transferência de responsabilidades
“A pressão dos tutores, nos dias de hoje, tem sido cada vez maior”, conta Morgana. “Muitas vezes, eles responsabilizam inteiramente o veterinário por um quadro clínico“.
O veterinário e gestor Danilo compartilha que, em alguns casos, o animal já chega para atendimento muito debilitado – e não há nada que possa ser feito. “Eu me culpava muito por isso, me cobrava. Às vezes passava a noite com o animal internado e não conseguia cobrar um valor justo por aquela demanda. Isso cansa muito a gente”.
“Alguns clientes têm um problema e querem responsabilizar o médico-veterinário. Mas a responsabilidade de tomar certas decisões, como cuidar do animal a tempo, é do tutor”, explica Morgana. “Mas isso não tem como não mexer contigo. Você vai pra casa com a situação na cabeça”, acrescenta a veterinária.
Proximidade com o sofrimento
“A gente lida com pacientes graves. Vejo mais morte do que muita gente“, afirma Rodrigo Rabelo, diretor da Intensivet – um núcleo de medicina veterinária intensiva para pacientes graves.
Devido à expectativa de vida dos animais, os médicos veterinários lidam com a morte com muito mais frequência que os médicos humanos. Isso significa sofrer com a perda múltiplas vezes – e, em alguns casos, ter de encerrar a vida do pet, através da eutanásia.
“Eu tenho 20 anos de formado, mais cinco de graduação. Então, tem clientes que eu já estou na segunda geração do pet. Quando você acompanha um animal há anos e tem que fazer uma eutanásia, ou o animal é diagnosticado com câncer, e é um câncer que você não pode fazer mais nada… Você sofre. E não sofre pouco“, conta Paulo Henriques, diretor médico da clínica Pet Master.
Medos e ansiedades da profissão
Na medicina veterinária, os desafios vão além do consultório. Ansiedades e preocupações fora do atendimento também permeiam a mente dos profissionais. Por exemplo, a relação com as redes sociais.
“O que está na rede social não é o retrato fiel da vida da pessoa. Só que quando você vê aquele médico veterinário bem sucedido e você está no início da sua carreira, você diz: ‘Caramba, será que vou conseguir chegar lá?'”, destaca Paulo.
Diante de cenários como esse, o medo de ser processado – que já é constante – só aumenta. “Quando vamos atender alguém, já temos esse olhar de: ‘Quem é aquele cliente que está na minha frente? Será que um dia ele vai reagir de forma agressiva contra mim?.’ Já gera uma tensão prévia”, lamenta Paulo.
Leia também: Como lidar com clientes difíceis na clínica veterinária
Burnout veterinária: o que fazer para mudar esse jogo?
De acordo com os nossos especialistas, é preciso ir além de uma cartilha, ou de ações em um momento específico do ano, para combater de verdade a burnout veterinária. O ideal é criar um ambiente empresarial que permita o bem-estar – sem deixar de lado a produtividade.
Essa pode parecer uma missão difícil, especialmente numa realidade em que plantões e desafios emocionais são parte do dia a dia. Não desanime: com um passo de cada vez, é possível transformar de verdade a sua empresa. Veja as dicas dos especialistas para começar ainda hoje:
Primeiros passos
Atenção ao básico:
É importante que a sua empresa tenha rotinas profissionais sustentáveis, para você e para os colaboradores. Isso significa turnos de trabalho bem definidos e intervalos respeitados – seja a hora do almoço, o espaço entre consultas ou a folga semanal.
A valorização salarial, com o pagamento de horas extras e folgas, também entra nesse conjunto. O gestor Danilo Otávio exemplifica: “Se eles passam do horário, a gente paga hora extra. Eles tiram férias periódicas, a gente dá uma folga por semana. A gente tenta manter o ambiente mais saudável possível”.
A gente sabe, parece óbvio. Mas o óbvio precisa ser dito, e repetido.
Crie uma cultura aberta ao diálogo:
Uma das melhores formas de cuidar da equipe – e de si mesmo –, é transformar a empresa num local onde todos se sintam confortáveis para falar sobre os sentimentos.
“A conversa é algo que procuramos desenvolver. Damos dicas de leitura, vídeos técnicos que recebemos de plataformas que falam sobre a burnout veterinária. Também é interessante trazer pessoas especializadas para conversar com a equipe”, conta Paulo.
Na clínica de Danilo, foi implementada uma reunião mensal para que todos possam conversar. “Temos o bate-papo e a capacitação dos colaboradores também. Estamos sempre fazendo cursos de vendas, de banho e tosa, de atendimento e investindo na qualidade do ambiente”, compartilha o gestor.
Estabeleça as responsabilidades:
Pode ser difícil, mas é necessário entender quais são os seus limites e o limite das pessoas que trabalham com você. A dica de Morgana é: “Não levar pra você o que não é responsabilidade sua”. “O que não é responsabilidade minha, não é meu. Vou dar o meu melhor, mas dentro do que é a minha responsabilidade, que é diagnosticar, orientar, tratar de uma maneira adequada”, conta Morgana.
Para proteger seus colaboradores, Rodrigo, diretor médico da Intensivet, definiu camadas de comunicação. Se houver algum atrito grande com o cliente, a orientação é delegar o diálogo para o diretor – que tem mais preparo técnico e emocional para guiar a discussão. “Eu sou a quarta camada na minha instituição. Às vezes, tenho que sair da minha casa às 21h, 22h para ir pessoalmente ao consultório e resolver um conflito”, conta o gestor.
Preparo antes de situações de alta carga emocional:
Uma boa forma de tranquilizar a equipe é estabelecer rotinas de preparação antes de situações de alta carga emocional. Elas incluem cirurgias, consultas difíceis ou tomadas de decisões importantes, no caso dos gestores.
Para Rodrigo, da Intensivet, três coisas ajudam a relaxar: o sono, o hobby e o ócio. “Essas coisas têm que existir nas minhas 24 horas e eu tenho que dividir isso com o trabalho”, diz o gestor. “Quando eu sei que vai vir uma semana pela frente extremamente pesada de responsabilidade, de tomada de decisão importante ou ir para um curso, me dedico a isso. Eu me preparo mentalmente antes”, acrescenta.
Recomende e faça terapia:
O gestor pode – e deve – recomendar terapia ao colaborador, se perceber que será importante para ele. “Tem pessoas que não enxergam que já chegaram ao limite”, afirma Paulo Henriques.
A Anclivepa, instituição da qual Morgana faz partel, lançou um programa de apoio psicológico para veterinários. “A gente tem uma parceria com uma psicóloga, a Bianca, onde ela pode dar suporte ao médico veterinário”, indica a veterinária.
Para ir além do básico
Crie canais de feedback:
Além de estar disponível para ouvir a acolher outros colaboradores, vale a pena criar um espaço oficial para receber feedbacks. Não precisa ser nada muito elaborado: um formulário online já pode ser um começo.
“Prefira formulários sem perguntas abertas. Isso porque, pelas perguntas abertas, às vezes dá pra identificar as pessoas”, alerta a psicóloga Alice. “Questionários fechados, mas muito específicos, conseguem chamar a comunidade veterinária que trabalha naquele lugar, dando liberdade para eles opinarem sobre as coisas. Assim, eles conseguem se abrir e falar sem ter medo de retaliações”, acrescenta a psicóloga.
Invista em educação comportamental:
“Meu primeiro passo na relação com o colaborador é dar suporte para a evolução técnica. Isso também ajuda no aspecto psicológico, porque traz autoconfiança: o profissional ganha autoestima no momento em que está fragilizado”, conta Rodrigo Rabelo.
Para o gestor, a educação técnica não precisa ser somente sobre a prática veterinária. As formações sobre soft skills, ou competências comportamentais, devem ser consideradas. “Tem cursos de dar notícias ruins, de gestão… Habilidades como a gestão de projetos e a gestão de pessoas devem vir acopladas com a parte técnica”, diz Rodrigo.
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Fontes
Adriana Andrea, veterinária, gestora e proprietária da clínica veterinária Vital Vet (BA);
Alice Frank, psicóloga com experiência em atendimento a veterinários (SP);
Danilo Otávio, veterinário, gestor e proprietário da clínica veterinária VetVale (BA);
Morgana Freire, presidente da Anclivepa Bahia, membro da diretoria executiva da Anclivepa Brasil e veterinária e sócia-proprietária da clínica Oficina Animal (BA);
Paulo Henriques, consultor do mercado pet, veterinário, diretor médico e gestor da clínica veterinária Pet Master (BA);
Rodrigo Rabelo, veterinário, diretor médico, gestor e proprietário da clínica veterinária Intensivet (DF) e professor veterinário.